Arquivo mensal: junho 2020

Ilustração: “Noz-Moscada”

Noz-Moscada – Illustrator / Photoshop – Junho/2020

A noz-moscada é uma especiaria obtida do fruto de uma árvore chamada moscadeira, mas no mundo paralelo do Creatore, a tal especiaria não passa de uma noz tendo sérios problemas para afugentar uma mosca… Mais uma estranha integrante da Gangue das Nozes, que apareceu por aqui recentemente.

Conto: Cara ou Coroa

Cara ou Coroa – Illustrator – Junho/2020

Cara ou Coroa

O castelo acordou com um grito de terror vindo do quarto principal. Todos saíram de seus aposentos e correram para a porta do rei. O que haveria acontecido para que o temível monarca do reino emitisse aquele urro de pavor? “Saiam da frente! Vamos, saiam! Deixem-me passar”, disse o apressado e confuso Asdrúbal, o conselheiro real, ainda arrumando a camisa para dentro da calça, enquanto se aproximava da pesada porta de madeira que separava o quarto do rei, do corredor da torre.

“Majestade? O senhor está bem?”, questionou o ainda sonolento conselheiro, forçando a maçaneta e constatando que a porta estava trancada à chave. Mal terminara a pergunta, um novo grito, ainda mais impressionante e horrível do que o primeiro ecoou detrás daquela porta, afugentando boa parte da comitiva que ali se formara.

 “Minha nossa! Algo terrível acontece com o rei!”, disse Asdrúbal. “Vamos, senhores! Me ajudem a derrubar essa porta!”

“Não! De jeito nenhum, seus vermes!”, respondeu com voz forte o rei Ygor. “Não ousem encostar nessa porta, do contrário mandarei todos para a forca e eu mesmo os executarei com minhas mãos!” Ygor era famoso por sua índole cruel e atos de extrema maldade e não perdoaria ninguém que desobedecesse a suas ordens.

“Mas, meu senhor, estamos preocupados… O que foram esses gritos?”, indagou o conselheiro.

“Asdrúbal, livre-se de toda a escória que deve estar aí junto com você! Se não saírem serão açoitados!” exclamou colericamente o rei.

O pequeno grupo de curiosos se desfez na mesma velocidade em que foi criado. “Pronto, Majestade!”, disse o satisfeito Asdrúbal.

“Vou destrancar a porta e lhe contarei tudo”, respondeu o desamparado rei.

As notícias e boatos correram pelo reino. E logo, todos comentavam que algo havia acontecido ao rei. Os camponeses diziam que Ygor estava nas últimas, o padeiro soube por um cavalariço do castelo que na verdade o rei havia sido enfeitiçado por uma bruxa e agora urrava todas as noites como uma fera enjaulada. O ferreiro tinha a informação de que o rei fora vítima de um atentado, já os pescadores comentavam que o rei havia promovido uma festinha particular em seus aposentos e teria sido desprovido de sua genitália por uma de suas amantes enciumadas. O certo mesmo é que ninguém sabia o que se passava, exceto o próprio rei e seu conselheiro real.

“Mas, Majestade, com todo respeito, não vejo nada de diferente”, arriscou sem muita convicção o pobre conselheiro.

“Inútil! Como ousa duvidar da palavra de Ygor, o Ceifador? Não acredita no que estou lhe dizendo?”, bradou colericamente o rei.

“Desculpe minha impertinência, Majestade, mas sinceramente não sou capaz de notar a diferença em seu rosto”, tentou se redimir o conselheiro.

“Deveria mandar açoitá-lo, Asdrúbal! Do que me adianta um conselheiro real que não percebe que seu rei está mudado… Que seu rei… Meu Deus, como isso pode acontecer?!… que seu rei não tem mais um rosto!”

Alguns nobres diziam que após anos de atrocidades, o rei perdera o juízo completamente. Outros comentavam que o rei estava muito doente e sofria com alucinações. O pároco dizia que a hora do rei estava próxima. Ainda assim, ninguém sabia que Ygor havia perdido seu rosto.

“Tire isso daqui, Asdrúbal! Não ouse fazer troça com seu rei ou o mandarei passar uns meses no calabouço!”, gritava Ygor, enquanto quebrava o espelho que o conselheiro lhe trazia.

O conselheiro não podia entender aquela situação. O rei estava de fato maluco? Seu rosto era aquele mesmo, não? Ele estava lá no lugar onde deveria, com as mesmas feições duras, rígidas e coléricas de um déspota tirano e cruel.

O rei, ainda de pijamas, estava agora completamente descontrolado e passara a quebrar tudo que encontrava em sua frente. As tentativas de acalmá-lo eram inúteis. Mas de repente, ele parou, arrumou o cabelo preto desgrenhado e seu rosto que supostamente não existia mais, se iluminou com uma ideia.

“Asdrúbal, exijo que todos os espelhos do reino sejam confiscados e trazidos a mim até o final da tarde”, ordenou o rei.

“Mas, Majestade….”, tentou argumentar Asdrúbal.

“Ousa me desacatar, verme?”

“Não, majestade. Agora mesmo, senhor.” E assim se retirou o conselheiro, deixando o rei sem rosto sozinho.

Espelhos? Alguns caçadores diziam que era uma nova mania do rei. As lavadeiras diziam que o rei havia se tornado vaidoso ao extremo. As cortesãs achavam que Ygor estava preparando uma festa de arromba. O bobo da corte dizia que o rei havia perdido seu rosto e estava tentando encontrá-lo em algum espelho por aí. Todos riram muito com essa piada.

Naquela mesma tarde, centenas de espelhos foram confiscados e levados até os aposentos do rei sem rosto que se recusava a sair do quarto. O conselheiro continuava apreensivo e preocupado com o futuro do reino e de seu governante.

O rei começou a testar um espelho por vez. Olhava fixamente para cada um deles durante alguns minutos. Girava o não-rosto para um lado, girava o não-rosto para o outro lado. Se irritava e quebrava o espelho contra a parede. Ygor, o Sem Rosto, procurou sua face perdida durante toda a noite. Após quebrar o último espelho, ele ordenou que Asdrúbal lhe trouxesse mais.

Asdrúbal, leal e temeroso, atendeu as ordens do rei, mas já imaginava que deveria intervir, tomando para si as rédeas da situação e do próprio reino, pois Ygor, o Sem Rosto, não estava em condições de governar. Ele só precisava dizer que o rei estava adoentado, o nomeara como seu regente substituto nesse período e que todas as ordens sempre partiriam do próprio Ygor. Como o rei não tinha mulher, nem filhos, nem parentes vivos, todos acreditariam e aceitariam as ordens do conselheiro como se fossem mesmo do próprio monarca.  Alimentar essa doentia fantasia de Ygor seria o suficiente para que o conselheiro pudesse se consolidar no poder.

Assim, Asdrúbal passou a governar o reino, enquanto o rei passava os dias e as noites a procurar a si mesmo em frente aos espelhos. Aos poucos, o conselheiro foi se mostrando um monarca tão cruel quanto seu antecessor e o rei, como era de se esperar, foi definhando dia após dia.

Pegar em armas e ir para guerra? Os cavaleiros diziam que o rei queria novas terras para o seu reino. Os escudeiros diziam que o rei precisava de mais tributos. O bobo da corte dizia que o rei precisava dos espelhos dos outros reinos.

Alguns anos se passaram e nada do rei recuperar seu rosto. O conselheiro, muito astuto, não permitia nenhuma visita ao velho monarca, alegando que ele era o único que poderia fazê-lo. Supostamente essas eram as ordens de Ygor, o Sem Rosto. Assim, o conselheiro mantinha o poder com mãos de ferro, expandindo o reino e o controlando sob um regime de medo e crueldade. Ninguém imaginava que Asdrúbal fosse capaz disso, mas o poder parecia ter mudado seu jeito e até mesmo suas feições: antes calmas e bondosas, agora eram duras, rígidas e coléricas…

Um dia, o velho rei sem rosto caiu de cama e não se levantou mais. Ele tinha poucas horas de vida e Asdrúbal resolveu visitá-lo uma última vez. Uma pilha de espelhos e cacos de vidro jaziam sobre um canto do quarto. A figura outrora forte e enérgica do rei agora se resumia a um patético e frágil semimorto deitado em seu leito. O Sem Rosto fez um último esforço, apertou os olhos e ordenou que Asdrúbal se aproximasse. O conselheiro obedeceu e, então, o velho rei esticou os trêmulos braços e se pôs a tatear o rosto de Asdrúbal. Com lágrimas nos olhos e uma expressão de contentamento que há anos não se via, o rei murmurou:

“Finalmente encontrei… meu rosto… finalmente o encontrei.”

Asdrúbal afastou as mãos do antigo rei com certo carinho e respeito e não ouviu mais nada. Ninguém mais ouviu.

Vinícius Urbani

Ilustração: O Cravo e a Rosa

O Cravo e a Rosa – Photoshop / Illustrator – Junho/2020

Como seria a briga entre o Cravo e a Rosa? O Creatore traz uma perspectiva diferente de um dos maiores conflitos da história! Natureza morta de novo, aqui no Blog… Mas, nesse caso, a natureza que está tentando se matar, mesmo.

Ilustração: “É Nozes!”

É Nozes! – Illustrator / Photoshop – Junho/2020

Após alguns anos de hiato, o Creatore voltou definitivamente. Em tempos de pandemia e isolamento social, com um mix de emoções e sensações que o período está oferecendo, o jeito é ocupar a cabeça esvaziando a mente (curioso, não?) com uma série de ideias e criações malucas, mesmo…

A galerinha aí de cima faz parte da Gangue das Nozes e me fez lembrar uma série de desenhos sobre “Natureza Morta“… O estilo e os traçados eram outros, mas está tudo junto e meio misturado…

Ilustração: Sketch Dog

Sketch Dog – Illustrator / Photoshop – Junho/2020

Um desenho rápido para um fim de noite frio…

Ilustração: Troncoso Ramos

Ilustração: Troncoso Ramos – Photoshop / Illustrator – Junho/2020